Sobre o implante de chips cerebrais e suas implicações

Imagem Pixabay



Por
Vânderson Domingues*




Essa
semana estava lendo e refletindo sobre um assunto de nosso tempo, o
avanço das neurotecnologias e suas implicações. É claro que a
discussão transversal desse tema não se esgota em algumas poucas
linhas, nem em um único diálogo e ou postagem de redes sociais, mas
resolvi pautar alguns tópicos, apenas para que possamos refletir
sobre o assunto.




Como
o assunto é questionável de várias formas diferentes, vou levantar
apenas quatro reflexões:




1
- O modus operandi do antropocentrismo, para variar, não leva em
conta os direitos dos animais não-humanos no desenvolvimento tecnológico:




"O
Neuralink está funcionando bem em macacos e, na verdade, estamos
fazendo muitos testes e apenas confirmando que é muito seguro e
confiável." (Elon Musk)


Por
que, em pleno século XXI, a ciência ainda acha razoável fazer
"testes" (torturas sistemáticas) em animais não-humanos
em suposto benefício dos seres humanos?;




2
- As neurotecnologias se apresentam geralmente como qualidade de vida
(e esperança) para convencer a opinião pública - sem passar por um
debate amplo e supervisão das democracias sobre os usos e objetivos. No caso, o Neuralink quer utilizar tetraplégicos (humanos) como "cobaias"
na próxima fase de testes para desenvolver um projeto muito mais
ambicioso (problemático e complexo) do que ajudar pessoas com
"lesões graves na medula espinhal". Não se trata de
ignorar o sofrimento de pessoas com lesão na medula - os avanços
tecnológicos são muito bem-vindos nesse sentido -, mas de se
perceber que o projeto visa outro objetivo. O que está em jogo aqui
é realmente melhorar a vida das pessoas ou, principalmente, uma nova
fase de aprofundamento do controle dos corpos/desejos no
neoliberalismo?;




3
- O paradigma cientificista-reducionista duplamente equivocado de que
"somos o cérebro" e de que resolveremos todos os nossos
problemas com tecnologia (a neurociência é a bola da vez). Este modelo gera soluções ou vidas "esquartejadas" da totalidade
existencial?;




4
- O que se vislumbra no horizonte do Neuralink, do Metaverso e afins,
é, entre outras coisas, um mundo transhumanista (onde se transforma
a condição humana com o uso da ciência emergente). Por hora, esta
proposta se apresenta a serviço da sociedade do rendimento - no
intuito de nos tornarmos "nossa melhor versão" forjados
pelo progresso da neurotecnologia. Porém, no futuro, com alguns
poucos multibilionários controlando profundamente corpos e desejos
em escala global, o que nos espera?




*Vânderson
Domingues - Graduado em Filosofia e Clínico. Editor do
Existografias©


** Artigo postado em Nota Parresía.

**Sobre a notícia de implante de chips cerebrais.
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